segunda-feira, 11 de março de 2013

Vida de cuidador: ser ou não ser, eis a questão


Até quando pretendo cuidar do meu pai?

Essa é a pergunta que me ocorre quase que diariamente.

Meu namorado e eu planejamos morar juntos - e ficar noivos, né Régis, vou ganhar meu anel, êeebaaa - quando eu terminar o meu curso de finanças. Também desejo trabalhar nessa área (não mais com nutrição). Até já pensei em continuar cuidando de idosos, pois acho que já tenho alguma experiência e é difícil encontrar pessoas confiáveis para esse trabalho - que exige tanta dedicação e carinho. Mas isso é outra história. O que você acha, caro leitor?

Bom! Enquanto isso, vou sonhando. E me preocupando. Quem vai cuidar do meu pai? Se nem os mais "chegados" tem tanta paciência como eu, quem terá? 


Planejar é uma coisa, colocar em prática é outra totalmente diferente. Que agonia...!

Tem uma senhora que ajuda na limpeza de casa aos sábados. Durante a semana ela trabalha num distrito de Ribeirão Preto, Bonfim Paulista, e chama-se dona Lucia. 

Apesar de já ter 60 anos, cuida de uma casa enorme e, pelo que me disse, nunca recebeu nenhum aumento, férias ou bônus. Pura sacanagem da patroa, que é "cheia da grana". 

Acho que ela é a única pessoa que confio para deixar meu pai. Sabe aquela mulher boa, de coração enorme e sensível, que preza pela honestidade e respeito? É a dona Lucia. 

Teve uma época em que eu brincava que ainda iria "rouba-la" da patroa mesquinha e ela ria  alto - imagino que na esperança de eu convida-la mesmo para trabalhar em casa. 

Quando vou para São Paulo, costumo sair sábado de manhã e, durante este período, a dona Lucia fica com meu pai - minha mãe trabalha até às 13 horas. Ele fica bem comportado com ela. O único medo que a dona Lucia sente, é que meu pai saia de casa. Mas ela não precisa se preocupar, pois ele não tem a chave do portão.

Em janeiro, pensava que talvez nem precisasse me preocupar com quem meu pai ficaria, pois achei que ele ia morrer. Morrer. Morte. Palavrinhas pesadas, não? Eu tinha tanto medo de perder meu pai a qualquer instante! Ele estava tão fraquinho e dependente. Agora,  está se alimentando bem, tomando banho e ativo - acho que ele está bem e não vai morrer de uma hora para a outra.

Tô meio depressiva esses dias. Sem muito ânimo, me sentindo meio inútil. O pior é que eu sei que deveria estar animada e feliz, porque meu pai não depende mais (tanto) de mim. Mas acho que isso me faz ter tempo para parar e pensar em mim, na minha vida e no que eu estou "perdendo", enquanto todos ao meu redor só estão "ganhando". 

Hoje comprei presente (pela internet, eita facilidade moderna) de casamento para um amigo que admiro bastante. Estou super feliz por ele e pela noiva, que se formaram na USP mais ou menos na mesma época que eu. Recentemente, minha melhor amiga também ficou noiva e foi morar com o parceiro. Fico pensando o quanto eles serão felizes para sempre. Mas é inevitável a comparação com a minha vida. Não é que eu sinta inveja (aquela coisa negativa, de vilã de novela). Pelo contrário, gostaria muito de também estar pensando em casamento, em casa própria com o noivo, enxoval, viagens, trabalhos, mudanças, aumentos... parecem coisas tão distantes e não merecidas por mim.

Semana passada (ou será retrasada, já?) fui ao neurologista. Ele já foi médico do meu pai, mas acabou indicando o atual para dar continuidade ao tratamento. Eu acabei me afeiçoando bastante a ele e acabo chorando toda vez que tenho consulta. Faço um tratamento para depressão (assunto que ainda vou abordar no blog - só falta criar coragem para falar) e enxaqueca. 

Nesta última consulta, ele falou algumas coisas que me deixaram pensativa (até demais). Disse que ele tem filhas da minha idade e, que nesta época da vida, eu deveria estar aprendendo a dar banho nos meus filhos e não no meu pai. Que se meu pai fosse consciente, provavelmente gostaria que eu tocasse a minha vida. Dentre outras coisas.

O que você, leitor, acha de tudo isso? Me dê uma luz, uma opinião, sugestão, bronca, conselho, uma piada, qualquer coisa! Hoje meu pai gritou tanto comigo, que fiquei totalmente sem chão. E eu só queria trocar o lençol molhado da cama dele... é tão bom vê-lo tão esperto sem remédios, mas ao mesmo tempo é tão difícil aguentar as patadas que ele dá inúmeras vezes, sem nenhum motivo. 

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sabonete para macho


Meu pai gosta de usar o sabonete Dove, o mais tradicional, de embalagem azul.

No supermercado, ele notou que havia uma versão nova, com "men" escrito e disse:

- Vou pegar esse de MACHO! 
- Opa! Vai arriscar um cheiro diferente? 
- Vou! Mas também vou pegar um "normal". E o de maaaaaacho!

Continuando as compras, meu pai quis um monte de bolacha de chocolate. Ficou contente quando viu uma de coco e falou "pressstiiígio!!!". Eu já estava prestes a colocar na nossa cestinha, quando ele falou:

- Se bem que eu não sou muito chegado em coco! 

O passeio foi tranquilo na maior parte do tempo. Só em um dado momento, quando um funcionário gritou para brincar com o outro e meu pai soltou uns palavrões bem cabeludos, que por sorte ninguém ouviu.

Saco?



No carro, minha mãe disse:

- Viu, filha, então passa no banco e saca dinheiro.
- Saco! - respondi.
- SAAAACO?????? - meu pai gritou, indignado.
- é, pai, mas é saco do verbo sacar! Eu saco, tu sacas, ele saca.... 
- Aaaaahhh bom, pensei que fosse outro saco!!

Nós três rolamos de rir!

Chorão


Ontem faleceu o cantor Chorão, da banda de rock Charlie Brown Jr. 

Como esta notícia é importante, passou em vários programas durante o dia. Em um deles, disseram que foi encontrado um pó branco no apartamento do falecido, mas que os resultados das análises ainda não estavam prontos. Na hora que ouviu isso, meu pai falou:

- Pó branco? É, farinha não devia ser. Ele não tem cara de quem fazia muito bolo.

Eu sei que a notícia é triste e tal, mas não consegui conter meu riso e minha alegria em ver meu pai raciocinando com rapidez.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Algarismos romanos


Conversando com meu pai sobre nosso hábito de fazer palavras cruzadas, comentei que tanto minha irmã quanto eu, sempre confundimos os números 50 e 500 em algarismos romanos.

Meu pai estava sentado e deu uma espreguiçada, dizendo:

- É muito simples! Letra "D" é 500 e "L" é 50.
- Mas pai - questionei - tem algum truque para decorar?
- Hum..... - ele pensou um pouco - Lembre-se de MMDC: o "D" sempre vem com o "M". 

"Plim" acendeu a lanterninha na minha cabeça. E fiquei orgulhosa do meu pai, como sempre!

A dificuldade em escolher


Bem no início da doença, meu pai apresentou aquela mudança de personalidade e comportamento que já comentei aqui no blog.

Uma das esquisitices ocorria sempre que saíamos para comer. Ele sempre gostou de escolher o prato, mas começou a nos deixar escolher sempre. E, quando perguntávamos sua opinião, ele respondia muitas vezes com agressividade um "tanto faz". 

Ficava aquele "climão" na mesa, durante boa parte da refeição. Lembro-me que em algumas vezes, a rainha do choro (eu) não se aguentava e começava a chorar ali mesmo, engolindo cada garfada com angústia e raiva.

Nestes momentos, admirava muito a minha mãe, que com muito jogo de cintura e bom humor, tentava voltar a conversar e amenizar a desagradável situação.

Ir a restaurantes já não era mais tão agradável e ainda não fazíamos ideia da gravidade e existência da doença que estava tomando conta das atitudes do meu pai.

terça-feira, 5 de março de 2013

Mercadão, mercado, mercadinho

Essa imagem é do vídeo Fake Plastic Trees 
de uma banda que amo, chamada Radiohead

No último sábado, perguntei para o meu pai:

- Ei papito, vamos dar um rolê?? 
- Vamos!! - ele respondeu rapidamente, animado.
- Só que é um programão, hein? Vamos até o supermercado e depois ao mercadão!
- Tá bom! Deixa eu trocar de roupa, então! Vamos no mercado, mercadão e mercadinho! Tem que ir no mercadinho, também! Hahahahihihihi

E rimos bastante.

Ao voltar do super passeio, meu pai disse:

- É... tem que ter muita paciência para ir ao supermercado. O povo é tudo barbeiro! Fica com os carrinhos parados nos corredores!

Concordei na hora, aliviada dele não ter ficado nervoso por este motivo durante as compras.
- Bom dia! 
- Bom dia, paizinho! Dormiu bem?
- Sim!
- Acordou cedo, hein?
- Que horas são?
- Sete da manhã!
- Sete???? Deu até sono! Hihihihi
- Ah pai, já que já acordou, aproveita para tomar café e depois dá uma cochilada! 
                        - Tá bom!

Zzzzzzz


Outro dia acompanhei meu pai, como de costume, até seu quarto na hora de dormir.

Antes disso, minha mãe pediu um cobertor e meu pai lembrou que no dia anterior ela "chutou tudo". Rimos um pouquinho.

Deixei separado um pijama (camiseta e bermuda) e sua fralda, mas meu pai perguntou por um conjunto azul - de manga comprida e calça. Como havia chovido e o tempo estava fresquinho, ele quis dormir mais quentinho.

Na hora da usual "despedida", ele falou com um sorriso imenso:

- Agora...! Não nos resta mais nada, senão: palavra cruzada! Gibizinho! E zzzzzzzzzzz!!!
- Zzzzzzzzzzzzzz - fiz também, e demos uma risada bem gostosa.

Dei um beijo de boa noite no meu pai, que me desejou bons sonhos e fui dormir, em paz.

Meu pai sonhou com uma caverna


Um dia meu pai sonhou com uma caverna e uma mulher, a Maria. Ele diz que não costuma sonhar durante a noite, mas desta vez sonhou e sonhou bastante. 

Maria trabalhou em casa durante muitos anos. Viu meu irmão e eu nascermos. Seu grande sonho era voltar para sua terra natal, Bahia. Também sentia um forte desejo em realizar uma cirurga de redução das mamas - que ela chamava carinhosamente de "malacas".

Meu pai passou o dia falando sobre o conteúdo de seu sonho e questionando um possível significado.

Procurei no Google por uma interpretação, mas acho difícil acertar esse tipo de coisa assim, aleatoriamente. 

Achei algo interessante apenas para caverna: "Se encontrou a saída, vencerá as dificuldades. Se não conseguiu, prepare-se para uma escalada de apuros que durará muito tempo"

No sábado, meu pai comentou que sonhou com a casa que moramos em Rio do Sul. E  sonhou com sua mãe, também. Quando ele ia começar a contar como foi, a dona Lucia, senhora que vem aos sábados dar um "tapa" na casa, nos interrompeu. Depois, o assunto foi esquecido.



domingo, 3 de março de 2013

Ana Maria e Roll Cake


Durante algumas fases, meu pai come de sobremesa um bolinho chamado Ana Maria. Na embalagem vem 2 unidades, mas ele só come 1 de cada vez (nunca foi guloso!).

Tem vários sabores, como baunilha com gotas de chocolate, morango, doce de leite, brigadeiro, etc. Mas meu pai prefere aqueles que contém algum chocolatinho. Recentemente lançaram embalagens individuais, com sabores mais variados.

Ele também gosta de uns bolinhos da Bauducco, chamados Roll Cake (de chocolate, claro).

No ano passado, comprávamos pacotes com 6 ou 15 unidades.

Teve uma vez na qual as embalagens estavam com defeito - com buraquinhos nas laterais - e só descobrimos depois de um episódio meio desagradável: meu pai foi abrir um pacotinho e começaram a subir formigas por todos os lados em suas mãos e braços, o que causou grande transtorno na hora. Naquela época, meu pai sentia medo de insetos. Joguei tudo no lixo, revoltada!

Dei uns tapinhas nos braços e mãos do meu pai, para espantar as formiguinhas e mandei um e-mail muito brava para a Bauducco, contando o transtorno causado por uma embalagem defeituosa e mal-acabada. Em pouco tempo, me responderam educadamente e me enviaram outro pacote de Roll Cake pelo correio.

Sou exigente como consumidora e quando não fico satisfeita, nunca mais compro o produto ou entro numa loja onde sou mal atendida. No caso da Bauducco, fui bem atendida e não fiquei traumatizada. Fiquei até encantada com o bom atendimento.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Garrafas de refrigerante

Estava fazendo uma lista de compras e perguntei se meu pai queria alguma coisa do mercado. Ele pensou um pouco e pediu Coca-cola. Eu disse que já estava na lista e ele falou:

- Compra Pepsi, Guaraná, Coca, tudo de 2 litros. Garrafão é melhor do que garrafinha! - e rimos - É melhor um garrafão do que 10 garrafinhas: é menos lixo! A garrafa é maior, mas só tem uma tampinha! Garrafão é lixão, mas é menor!


Bom-humor contagiante

No jantar de hoje meu pai estava muito bem-humorado, sorrindo e rindo bastante. Brincou e tirou sarro de várias coisas. Como minha mãe chegou tarde, não pude ir para a faculdade. 

Minha mãe estava vendo novela e falei alguma coisa que ela não ouviu, então comentei que ela já devia estar cochilando. Meu pai logo disse: "melhor dormir do que ver novela. Aproveita melhor o tempo". E riu.

Ela ouviu e contou que meu tio Jorge caiu e se machucou. Meu pai, bem engraçadinho, falou: "só lembrou do tio porque tá vendo São Jorge! Mas na novela é outro Jorge! É o São Jorge". Rolamos de rir!

Minha mãe contou que um zelador da loja dela estava assediando algumas funcionárias e meu pai disse: "tarado é tarado! Hihihi". 

Não me lembro o motivo, mas comecei a dizer que meu namorado afirmava (brincando!) que "macho que é macho, é macho até embaixo de outro macho". Meu pai riu:

- É macho! Macho!? Mas nem disfarça!
- Ele vem amanhã depois da aula, pai, pode falar para ele!
- Falar o que? Para ele não deitar embaixo de outro macho?

Mais gargalhadas surgiram instantaneamente.

Aí ele me imitou, suspirando "ai, ai" e rindo muito, pois descobriu essa minha mania de rir e falar "aiai" no final da risada. Nem eu tinha notado que falo isso depois de rir hahahaha!

Quando terminou de comer, meu pai viu que estava passando um filminho na televisão e eu perguntei:

- Quer sentar lá no sofá, pai?
- Quero! Mas antes, preciso lavar as mãos - e olhou para o lavabo - Pode lavar aqui mesmo?
- Pode, claro, pai!
- Tem tudo?
- Tem! Tem sabonete, água e toalha! Tudo!
- E tem a mão, né? Precisa da mão para poder lavar a mão! Hihihihihihi
- Hahahahahahhahahahaahhahaha!

Foi mal pela desordem nos posts


Me empolguei aqui no blog ao descobrir os "marcadores" e acabei não reparando que ao atualizar alguns posts, as datas também mudaram, deixando tudo fora de ordem.

O problema é que não lembro como estava... 

Administração de medicamentos


Desde que meu pai começou a tomar os medicamentos, minha mãe e eu éramos responsáveis por administrar os horários e as quantidades. Se deixássemos para meu pai fazer isso sozinho, provavelmente - com 99% de probabilidade - ele não faria. Quando meus irmãos estavam em casa, pedia ajuda aos 2, para dar uma variada e aliviada.

Esporadicamente, meu pai ficava bravo e achava que tomar remédio era algo desnecessário. Perguntava "pra que isso?" e nós respondíamos "para a memória...". Também reclamava do amargor de um líquido - em outras ocasiões, falava que nem tinha gosto, que era "bico" tomar. 

Algumas vezes, meu pai jogou escondido o remédio líquido em uma planta que fica ao lado da mesa. Uma vez meu irmão viu e me contou e outra vez, peguei ele no flagra!

Às vezes ele tinha certeza - erroneamente - que já havia tomado os remédios e reclamava: "é... Não deve ter problema em tomar duas vezes, né. Eu já tomei. Não tem problema né".

Durante uma fase, enrolava para engolir os comprimidos ou aspirar o pó e dizia: "vou tomar, hein! Olha! Tá olhando? Então! Vou tomar!"; aí, dava risada e não tomava. 

Parecia que ele sabia que não sairíamos do seu lado enquanto ele não terminasse de ingerir os remédios, então "abusava" da nossa boa vontade e tirava um sarro da nossa cara. Mas eu sei que não era por maldade.

Ficávamos um tempão ao seu lado, pedindo, quase implorando: "pai... paizinho... vamos tomar o remédio... rapidinho...?" e ele recomeçava com a brincadeira

De vez em quando, funcionava falar que depois de tomar o remédio a gente assistiria um filminho ou que eu precisava ir urgentemente ao banheiro, então era preciso ser rápido. Em outras vezes, ele não se importava com as necessidades fisiológicas alheias.

Passatempo quando acabar a luz em casa

Outro dia choveu muito e acabou a luz aqui em casa (na verdade, em boa parte de Ribeirão Preto) lá pelas 18h e só voltou às 22h. 

Durante este período, ficamos à luz de velas e lanternas. Nem fui para a faculdade, pois como ela fica perto de casa, também estava sem energia. 

Meu pai até que não deu trabalho - apenas no final da noite começou a sentir medo e ficou nervoso.

Como não havia muito o que fazer, ficamos conversando ou tentando ler alguma coisa, na sala.

Minha tia começou a falar no telefone e, como de costume, conversou em alto e bom som - equivocadamente, como se todo mundo estivesse interessado no que ela fala.

Meu pai, que muitas vezes fica incomodado com o barulho que ela faz, desta vez deu muita risada dos comentários que ouvia:

- É, é. Uma hora a gente ganha, outra hora perde. - a tia começou.
- Sabedoria popular! - meu pai disse, rindo. - Não tem o que fazer, né, Mônica, vamos ficar ouvindo ela falar hahahaha!

Em outro momento, a tia falou:

- Caramba!
- Fala logo CACETE! Hihihi é melhor falar cacete! Cacete é melhor! - ria o meu pai.

O papo continuou e os risos também:

- Isso.. barco.. bla bla bla... peixe.
- Nem barco, nem peixe! Não chegou a tanto! - meu pai referiu-se à chuva que caía.

- É, a Mônica, a Seiko, o Rubens bla bla bla...
- Tão usando nosso santo nome, hein! E acho que é em vão! - meu pai falou, levantando o dedo indicador.

Ainda me recompondo das gargalhadas que dei, minha tia disse:

- Ligou no celular da TIM da fulana... 
- No TIM, não! TIMTIM é muito feio! - e rimos até não aguentar mais. "timtim" refere-se ao órgão sexual masculino em japonês, de uma forma do tipo "pipi" em português.

Incontinência fecal: alarme falso!

Em uma manhã no início de 2012 (eita ano complicado), encontramos meu pai todo sujo de fezes em sua cama. 

Ficamos chateadíssimas, pois achamos que sua doença tinha avançado mais uma etapa. Meu pai também ficava bem magoado e envergonhado. Minha mãe e eu tentávamos confortá-lo com palavras carinhosas e muitos abraços. 

Essa falta de controle para defecar durou apenas alguns dias. Meu pai estava com uma diarréia e, assim que sarou, conseguiu controlar a vontade de ir ao banheiro novamente. 

Foi um grande alívio, pois eu já estava chorando toda hora (pra variar), preocupada com a piora. Meu namorado, como sempre, me consolava, dizendo que eu iria conseguir superar este novo desafio. 

Opa Gangnam Style - by papito


O hit do momento é o Gangnam Style, do Psy. Quando vi este vídeo pela primeira vez, não conseguia parar de rir e apertar o replay. A música também não saiu da minha cabeça durante dias.

Eis o vídeo, que todo mundo já viu: http://www.youtube.com/watch?v=9bZkp7q19f0

Meu pai, quando viu outro dia, também gostou e deu risada. Brincamos que iríamos dançar, mas ele não dançou.

A foto acima foi tirada em 1988, na África, durante o nascimento do meu irmão mais novo. Aposto que o Psy teve acesso a este arquivo secreto e copiou a dança inventada pelo meu pai há 24 anos! 

Na sala do parto do meu irmão, perguntaram para a minha mãe onde estava o pai do bebê e ela disse que estava viajando, na África. O rapaz curioso perguntou se precisava de escada para comer girafa e minha mãe não conseguia parar de rir. Até hoje, quando a gente lembra dessa história, meu pai acha engraçado.

Lava roupa todo dia, lá vai Maria... Não precisa mais! Fraldas novas!

Até meados de 2012, eu lavava roupa todo santo dia.

Apesar de usar fralda durante a noite, meu pai não trocava (e também nem ousávamos tentar) e acabava vazando praticamente todas as noites.

Para não molhar o colchão, compramos vários forros, alguns ditos impermeáveis e, mesmo assim, acabava molhando o lençol e até o colchão. Para secá-lo, usava um secador de cabelo mesmo. 

No final de 2012, finalmente, minha mãe encontrou uma capa bem fina e impermeável (de verdade) numa loja especializada em produtos hospitalares. Também comprou um novo tipo de fralda, que mais se parece com uma cueca. Meu pai se adaptou bem ao novo modelo, que é bem melhor e não deixa vazar nada, quase sempre. Além disso, parece muito mais confortável.

A partir deste momento, paramos de usar os forros e só deixamos o lençol que, mesmo se molhar, é mais fácil de lavar. 

O lençol também é bem mais agradável ao toque do que aqueles forros que utilizávamos, ainda mais numa cidade quente como Ribeirão Preto.

Meu pai voltou a rir

Por muito tempo, meu pai tinha ficado apático.

Hoje, felizmente, ele voltou a sorrir mais e a dar risadas bem gostosas (mesmo quando a piada que conto é ruim). 

Essa semana contei uma que, ao repetir dias depois, ele lembrou! Fiquei super contente!

Suco de laranja matinal

Todos os dias ofereço suco de laranja no café da manhã para o meu pai. Nem sempre ele aceita.

Geralmente espremo 4 laranjas, pois já aproveito para fazer suco para minha vó que,  por sinal, sempre aceita tudo que ofereço.

Para ela, que está um pouquinho acima do peso, só coloco 2 pedrinhas de gelo e mais nada. Para o meu pai, aproveito para colocar, no mínimo, 1 colher de sobremesa de açúcar, para aumentar o valor calórico. E muito gelo. 

Ainda pergunto se ele quer açúcar, pois falo (uma mentirinha boba) que o suco é natural.

Entupiu? Chame a mamãe!

Teve uma fase em que meu pai estava com um (péssimo) hábito de entupir o vaso sanitário. 

A gente não sabia direito o que ele fazia, pois a vazão do vaso era boa e nunca entupiu antes.

Depois, descobrimos que ele jogava um monte de papel higiênico e dava a descarga. 

Às vezes parecia que meu pai fazia isso por diversão, para ver minha mãe malucona e desentupindo o vaso.

Ainda bem que ele parou de "brincar". 

Takenoko



Minha prima nos mandou de presente um monte de takenoko, um tipo de bambu que usamos na culinária japonesa.

Meu pai viu o tamanho da panela e a quantidade de takenoko cozinhando e disse:

- vamos comer até fazer bico!

Rimos até não poder mais.

Bacalhau não tem coxinha

No almoço, lembramos das famosas coxinhas douradas de Bueno de Andrada. 

Estava relembrando os sabores variados, como coxinha de frango tradicional, coxinha de frango com catupiry, coxinha de bacalhau... Quando meu pai me interrompeu e disse:

- Bacalhau não tem coxinha! 

E concordamos, dando muita risada.

Crocs, o sapato lindo


Quando vi um par de Crocs pela primeira vez, achei a coisa mais feia e deselegante do universo. Pensei: "NUNCA vou usar algo tão terrível assim! Não há conforto que justifique tamanho mal gosto". Nunca diga nunca.

Uma vez, em 2010 ou 2011, vi minha tia avó usando um roxo, bem indiscreto, para passear. E pareceu-me muito confortável e prático.

Comecei a simpatizar com o Crocs e reparar na quantidade de pessoas que usam - tá, muitas crianças e adolescentes, mas também vi gente como a gente! rs.

Um belo dia, resolvi experimentar. Adorei no momento em que calcei. 

No natal do mesmo ano, meu namorado me presenteou com um lindo par de Crocs e, ainda, aproveitou para comprar outro par para seu pai, que poderia usar dentro de casa, com meia no inverno.

Inicialmente, pensei em usa-lo apenas dentro de casa. Depois, fui me acostumando com o visual e agora uso para ir a faculdade, padaria, farmácia, etc. 

Quando meu pai me viu usando pela primeira vez, fez uma cara de desaprovação e disse "que sapatinho mais horroroso! Ridículo!".

E sempre que saíamos de casa e eu estava usando meu novo sapato, meu pai repetia "ridículo esse seu sapatinho! feio! horroroso!" e eu ria, provocando-o dizendo que iria comprar um igualzinho para ele, o que resultava em muita risada e a resposta de sempre: " pode comprar, não vou usar".



Datena


Meu pai sempre achou programas como o Brasil Urgente, Ratinho e cia desprezíveis. Assim como ele, nunca fui fã de programas sensacionalistas, repetitivos e exploradores de sofrimento alheio. Mas gosto não se discute.

Durante um bom tempo, meu pai assistiu ao programa do Datena diariamente. Quando estava chegando o horário de começar o Brasil Urgente, meu pai falava "uuuuuhhh, tá na hora de ver as notícias do povo!". E mudava de canal - de vez em quando me perguntava qual era a emissora do Datena.

Atentamente, ouvia e ria de muitas notícias trágicas. Eu, que fazia companhia, acabava rindo também, de tanta desgraça que aparecia.

O mais engraçado era rir dos comentários do Datena. Até comecei a simpatizar com ele - antes, achava-o "intragável". 

Meu pai imitava-o, falando os jargões do apresentador, como "ladrão de lixo", "paspalho", "babacas", "me ajuda aí", "porrada", "ibagem" etc. Também imitava alguns repórteres, fazendo graça de sotaques cariocas ou modo de falar (ele falava "amigosssssss", "baiiiixa aí", "éeeeeeeeeeeeeee")

No início, lembro-me que tanto minha mãe quanto eu, ficamos preocupadas com o tipo de notícia que meu pai estava vendo. Depois de algumas semanas, ficamos tranquilas. Isso não fazia mal nenhum a ele. Se aquilo estava divertido, era o que importava.




Meu pai cortou as unhas. Sozinho.

Hoje meu pai cortou as unhas das mãos sozinho! E deu uma lixadinha no final, como antigamente. Fiquei bem contente.

Lembro-me da primeira vez que fui cortar as unhas dos pés dele. Até foto com o celular ele tirou de mim, enquanto aparava as garras.

A tarde consegui passear um pouco com ele. Antes de sairmos, ele me pediu ajuda para procurar seu chaveiro e sua carteira. 

O chaveiro está escondido, pois tememos que ele saia de casa sem notarmos. Falei que deveria estar em algum bolso de alguma calça ou casaco e que era melhor procurar com calma mais tarde. 

A carteira, que meus irmãos e eu demos de presente quando viajamos, estava em cima da escrivaninha. Mas ele disse que aquela era velha. A nova era mais escura e tinha os cartões de crédito dele. Nessa hora "gelei". Essa já é a mais nova, mas como ele acabou dormindo sem querer com ela no bolso, acabou molhando o couro e ressecando-o, tornando a aparência um pouco deteriorada.

Fomos ao mercado, comprar algumas frutas e legumes. Ele me ajudou a carregar a sacola de alface e maçã. 

Ao chegar no carro, que estava estacionado no sol, ele falou que as compras iriam estragar, pois estava muito quente. Para tranqüiliza-lo, respondi que ficariam no porta-malas pouco tempo, já que nossa casa estava perto.