Se alguém tiver uma sugestão para me dar, aceito com todo o prazer.
Nunca sei direito o que dizer quando meu pai me pergunta os porquês dele. A grande ironia é que ele sempre me respondeu todos os meus porquês quando era pequena e, agora, quando ele me questiona, sempre fico meio abobada, gaguejando, tentando encontrar as palavras certas, quase nunca conseguindo obter sucesso.
Tenho uma priminha de 6 anos, linda Sofia, que também admira o pai. Uma vez ela perguntou alguma coisa para minha irmã, que não soube responder, e ela, com toda a naturalidade de uma criança, falou "ah, então depois eu pergunto para o meu pai. Ele sabe tudo". É mais ou menos assim que eu me referia ao meu pai.
Voltando aos porquês.
Hoje, ao entardecer, ele começou com aquela tristeza. Mas bateu seu record e chorou como nunca tinha chorado antes. E eu, como sou uma boa companheira, chorei junto. Na verdade, eu gostaria de controlar melhor meus sentimentos, mas sempre fui muito transparente...
Aos prantos, ele me perguntava tantas coisas, como:
- Por que eu não fico bom?
- ... - a tonta aqui não sabia o que responder.
- Por que eu tenho medo de tudo?
- ... - mais uma vez, o gato comeu minha língua.
Tentava ser otimista, dizendo que ele está melhorando, se alimentando melhor, caminhando melhor de vez em quando. Mas aos prantos, fica difícil fazer uma voz de incentivo convincente.
Dentre outras perguntas, me perguntou se eu lembrava de Rio do Sul e Blumenau, cidades de Santa Catarina. Moramos em Rio do Sul por um período e ele, por mais tempo. Eu respondi que lembrava sim e tinha ótimas recordações daquele tempo, daquela cidadezinha simpática com tanta cultura. Falei que aprendi alemão (já esqueci quase tudo), que foi um período enriquecedor e de crescimento, pois antes achava que São Paulo (SP) era o "centro do universo". E ele, sem se animar com todo o meu discurso, só me disse "é um tempo que não volta mais. Se pudesse, queria voltar naquele tempo. Mas não dá". Chorei mais um pouco, pra variar!
Outro assunto que me deixou extremamente emocionada, foi ele ter dito que deveria ter agradecido a mãe dele, por tudo. Ele nunca mais falou dela desde que faleceu, há 5 anos atrás. Na verdade, a relação deles era boa, mas meio complexa, pois minha avó sempre deu mais atenção (descarada) para minha tia, irmã dele. Ainda vou falar das duas. Um outro dia.
Falando em irmã, tentei ligar para a minha, que mora em Brasilia, para ver se ele se animava. De vez em quando ele se anima para falar ao telefone. Mas ele continuava com aquela voz fraquinha e tristonha, deixando minha irmã preocupada.
Nem sei durante quanto tempo ficamos deitados na cama, de mãos dadas. Só sei que, depois de umas trovoadas, tive que ir no quintal tirar uns panos do varal antes que a chuva começasse (lerê, lerê). Quando voltei, ele sentou na cama, com uma cara normal, e disse "mas pode melhorar".
E fomos para a sala, como se nada tivesse acontecido, para ver um pouco de seriado americano.