segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Lucidez, Abstinência, Tremor e Temor


- Medo.
- Medo de que, paizinho?
- Não sei... Mas eu sinto muito medo. Eu já tentei. Já tentei de tudo. Não adianta. Não adianta...
- O que não adianta, paps?
- Nada adianta. Eu já tentei. Tenho muito medo e não sei por quê.
- Não precisa ter medo, paizinho querido... eu tô aqui... tá tudo bem...

Meu pai e eu tivemos esse diálogo praticamente todos os dias nas últimas semanas.

Parece que são momentos nos quais ele tem uma certa noção do que está se passando, de que está doente. Às vezes ele diz "eu tô quase bom!" e sorri. Em outras, ele chora e lamenta "eu não aguento mais". Eu, que já sou chorona por natureza, choro junto, todas as vezes.

Nunca tinha visto meu pai chorar na vida. Agora essa cena tem sido cada vez mais frequente, o que me deixa muito agoniada. Ainda não me acostumei. Será que é possível se acostumar com o sofrimento dele? Do jeito que eu sou, acho pouco provável.

Já faz 2 semanas que meu pai não toma nenhum remédio. Os efeitos que surgiram foram tanto positivos quanto negativos:

Um dos efeitos positivos: ele voltou a se alimentar direito. Começou aos poucos, apenas aceitando frutas (manga, melão, melancia e uva sem semente). Está mastigando e engolindo bem, sem a dificuldade que apresentava em janeiro. 

Naqueles dias em que meu pai não tinha apetite, quando se recusava a comer ou a beber qualquer coisa, eu ficava extremamente agoniada, com uma vontade imensa de rasgar (bem rasgadinho) o meu diploma de nutricionista. Era uma sensação de impotência que me deixava numa angústia sem fim. 

Um dos efeitos negativos: há uma semana, meu pai iniciou um tremor nas mãos durante a noite. Mal conseguia segurar o garfo. Ele ficou nervoso e ansioso, por não conseguir controlar suas mãos. Chegamos a pensar em leva-lo ao hospital, mas já se passava da meia-noite e estávamos tão cansadas que preferimos esperar o dia seguinte para ligar para o médico que, por sinal, está de férias e ainda não retornou nossa ligação. 

Outros pontos positivos: voltou a acordar cedo e a ter (breves) momentos de lucidez, com iniciativa para realizar atividades sozinho. Por alguns instantes - de vez em quando minutos à (poucas) horas - ele fala normalmente e anda como antigamente, sem "travar" e sentir aquele medo de cair, ou sussurrar. Vai até a cozinha sozinho, abre a geladeira (incrível) e serve-se de suco, refrigerante ou água, com bolachas ou pão com polenguinho. Abre seu armário, pega uma blusa e veste-se sozinho. Coloca a fralda sem ajuda. Escova os dentes direito. E diz "Mônica, eu não aguento mais ficar sem fazer nada". Ah! E parou de babar.

Não estou encorajando ninguém a parar de tomar seus remédios, pois são receitados por médicos devido a muitos estudos, que comprovam seus efeitos desejados. Mas até que ponto os medicamentos ajudam ou atrapalham com seus efeitos colaterais? 

Meu pai parece bem melhor sem os remédios, está menos "dopado". Só que está sofrendo com sua consciência, também. Então fica difícil saber o que fazer, principalmente porque não estamos conseguindo falar com o neurologista! O nefrologista já proibiu de voltar a tomar tudo antes de refazer todos os exames e verificar se os rins melhoraram. 

Dr. Vitor Tumas, volte de suas férias logo

2 comentários:

  1. Eu tenho uma amiga brasileira que mora perto de casa e a mãe dela foi diagnostica já muitos anos atrás que era portadora do mal de Alzheimer, e já a conheço há 15 anos. Um dia comentei com a minha amiga que a doença não progride no caso da mãe dela. Ela comentou que é porque a mãe não toma nenhum medicamento para a doença. Eu sei que apesar das características parecidas seu pai é portador de outro mal.
    bjs
    Etsuko

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    Respostas
    1. Olá Etsuko, sabe que estou pensando seriamente em pedir para o neurologista suspender todos os medicamentos? Ontem meu pai deu tanta risada, como há tempos não fazia, que fico pensando que os efeitos colaterais dos remédios superaram os efeitos positivos... Ele voltou a comer tudo que oferecemos e isso me deixa tão contente =)

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